sábado, 23 de outubro de 2010

A seiva


O tempo não esta de poesia,
Idéias turvas, palavras torpes,
Retratam nada mais que fantasia.

Três versos seriam bastantes,
desde que claros e constantes,
a servirem de chama, chamaria.

Que pegassem suas velas, queria.
E também suas chaves, mesmo se errantes.
E extraíssem daqui, uma gota de seiva que uma tocha acenderia,
para quando estiverem divagando,
longe da luz do dia.

sábado, 16 de outubro de 2010

O Pseudo


Apesar de subitamente lembrar-se de sua identidade, tão menos de imediato se esquece.

Perdido agora. Navega em terras oblíquas, instáveis

Perdido agora. Persegue miragens gastando assim o raro vento, que além de fraco é passageiro.

O pseudo navegante de tal vão navio, pensava ser rei, às vezes príncipe,

Quando em dúvida; nobre,

Na verdade, já pensou até ser pobre, ou não ser gente, um cachorro, a exemplo,

Mas nunca cogitou ser pseudo navegante, esperando fracos ventos.

domingo, 3 de outubro de 2010

Quando eu pedi a Deus


Dizem que quando se ora a Deus de coração e por uma fina causa, ele não demora a responder. Eis que ele era menino inocente, pentelho e alegre, mais escuro que seus lisos cabelos só mesmo os mistérios da vida. Costumava brincar na rua: Pique esconde pega-pega, futebol. E que os dedos me lembrem tinha cinco companhias, delas uma se estendeu por toda a vida. Enquanto escrevo claramente sinto seu sorriso em minha mente, faz tanto tempo que não o vejo, que saudade!

Chegou da escola, empolgado, não parou de falar um segundo sequer, havia aprendido todo o alfabeto. Enquanto falava e falava, surdo eu ficava, surdo para as palavras, por estar degustando todo o som de sua vitalidade, de sua “meninez”, e imaginando quantas coisas ele havia para ele aprender, quantas coisas a fazer. Revivi suas artes, menino sapeca!: A preocupação quando se machucou na escolinha, As risadas quando sujou a casa inteirinha aprendendo a pintar, até mesmo seu choro puro e sincero, indignado quando estava de castigo ou levava umas palmadas de sua mãe. Este menino que tinha um pouco de mim, zangado por pensar que não estava dando-o atenção saiu para brincar, mal sabia que desde que o conheço é o centro de minhas atenções.

A tarde passou pela janela de meu escritório, a noite chegou pela porta de minha casa. Pela boca de minha mulher soube que meu filho não voltou. Fui encontrá-lo numa cama, tão pacifica e branca que se tornava escura e cruel. Os médicos me falaram sobre seu estado, minha mulher sobre o acidente. Foram cinco horas de tentativas e cirurgias, eu nada pensava, nada sentia, ele ao alcance dos meus braços e nada eu poderia fazer, orei. Orei e quando minha voz se esgotou orei em pensamento, pedindo e pedindo e pedindo e pedindo. Lágrimas tão infensas e minúsculas se mostraram tão pesadas, um peso que jamais carreguei, destruía minha face, cobria os meus olhos.

Palavras são abstratas, quase metafísicas, não podem ser tocadas, mas chegando ao meu ouvido, tocaram-me, senti sua frieza, rigidez e crueldade, sua força, a força de uma vida: “Sentimos muito, ele não resistiu.”